Tabagismo custa R$ 56,9 bilhões por ano ao Brasil
A arrecadação de impostos no país com a venda de cigarros é R$ 12,9 bilhões, o que gera um saldo negativo de R$ 44 bilhões por ano
31 maio 2017, 16h05
Tabagismo: o câncer de pulmão é o quarto motivo de morte relacionado ao tabagismo (Prakash Singh/AFP/AFP)
Desse total, R$ 39,4 bilhões
são gastos com despesas médicas e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados
à perda de produtividade, causada por incapacitação de trabalhadores ou morte
prematura.
A arrecadação de impostos no
país com a venda de cigarros é R$ 12,9 bilhões, o que gera um saldo negativo de
R$ 44 bilhões por ano.
É o que revela o estudo
Tabagismo no Brasil: morte, doença e política de preços e esforços, feito com
base em dados de 2015 e apresentado hoje (31), Dia Mundial sem Tabaco, pelo
Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), em evento
no Rio de Janeiro.
A doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC) é a relacionada ao tabagismo que mais gerou gastos aos sistemas
público e privado de saúde em 2015, com R$ 16 bilhões.
Doenças cardíacas vem em
segundo, com custo de R$ 10,3 bilhões.
Também entraram no
levantamento o tabagismo passivo, cânceres diversos, câncer de pulmão, acidente
vascular cerebral (AVC) e pneumonia.
Em 2015, o estudo apontou a
morte, no país, de 256.216 pessoas por causas relacionadas ao tabaco, o que
representa 12,6% dos óbitos de pessoas com mais de 35 anos.
Do total, 35 mil foram por
doenças cardíacas e 31 mil por DPOC.
O câncer de pulmão é o quarto
motivo de morte relacionado ao tabagismo, com 23.762 casos.
O fumo passivo foi a causa de
morte de 17.972 pessoas.
A diretora-geral do Inca, Ana
Cristina Pinho, destaca que o tabagismo é a principal causa de mortes evitáveis
no mundo.
“O Brasil é um dos pioneiros
nessas políticas e os números mostram uma relação direta entre o controle do
tabagismo e a redução da prevalência de determinados tipos de câncer,
relacionados a esse hábito. São doenças absolutamente evitáveis, é um problema
mundial, mas a conscientização acerca dos males relacionados ao tabagismo só vêm
aumentando e os governos precisam adotar políticas de Estado, de nação, para
efetivamente buscar essas estratégias de redução do uso do tabaco.”
Novas medidas
O estudo fez uma simulação
para os próximos 10 anos com a elevação de 50% no preço dos cigarros.
Essa medida evitaria mais de
130 mil mortes, 500 mil infartos, 100 mil AVCs e quase 65 mil casos de câncer,
além de ganhos econômicos de R$ 97,9 bilhões com o aumento da arrecadação
tributária e a diminuição dos gastos com a saúde e perda de produtividade.
Segundo o ministro da Saúde,
Ricardo Barros, que participou do evento por videoconferência, essa é uma das
medidas em discussão no governo.
“Há uma proposta do aumento de
50% no preço dos cigarros, que implicaria em redução do consumo. Mas se houver
muito contrabando não teremos o efeito que queremos com o aumento do preço e
perdemos o controle da qualidade. Os cigarros contrabandeados representam mais
da metade do consumo no Brasil e, evidentemente, não está sob controle da nossa
vigilância sanitária”.
Outra medida, segundo o
ministro, é proibir os aditivos de sabores ao cigarro, pois, segundo ele, esse
é um subterfúgio para atrair adolescentes para o consumo de tabaco.
“Foi uma resolução da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária para proibir os aditivos de sabor ao cigarro.
Foi judicializado pela indústria do tabaco e está sob julgamento no Supremo
Tribunal Federal, sob relatoria da ministra Rosa Weber, está com pedido de
vista. Temos feito visitas, já fui pessoalmente, e temos insistido com a Advocacia
Geral da União para agilizar isso”.
Vigitel
Também foram apresentados hoje
os dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel 2016) relacionadas ao tabagismo.
De 2006 a 2016, a prevalência
de fumantes na população caiu de 15,7% para 10,2%.
Homens fumam mais do que
mulheres em todas as faixas de escolaridade, indo de 17,5% para homens e 11,5%
para mulheres com até 8 anos de estudo e caindo para 9,1% dos homens e 5,1% das
mulheres com mais de 12 anos de estudo.
Por faixa etária, a
prevalência é 7,4% entre jovens com menos de 25 anos e 7,7% entre idosos com
mais de 65. A faixa com mais fumantes, 13,5%, é a de adultos entre 55 e 64
anos.
Entre as capitais, Curitiba
tem a maior proporção de fumantes (14%), seguida de Porto Alegre (13,6%) e São
Paulo (13,2%).
A menor prevalência é em
Salvador, com 5,1% de fumantes.
A professora da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e assessora técnica do Ministério da Saúde,
médica Fátima Marinho, que apresentou os dados do Vigitel, explica que o Brasil
tem três marcos que contribuíram para a redução do tabagismo: a proibição da
propaganda e da glamourização do fumo em 2000, a proibição de fumar em
ambientes fechados em 2005 e o aumento do imposto sobre cigarro de 2011 a 2016,
aliado à obrigação das imagens de advertência nos maços (2008) e oferta do
tratamento para deixar de fumar pelo Sistema Único de Saúde.
Para ela, agora, é preciso uma
nova política para seguir reduzindo o consumo.
“Com o avanço na política, o
consumo começa a reduzir. Depois começa a estabilizar e a gente precisa de uma
media nova. O Brasil era um dos países com o menor preço de cigarro no mundo, e
quando mexe no bolso consegue convencer as pessoas a fumar menos, então em 2011
começa essa nova fase com o preço mínimo. A partir de agora precisa de uma nova
política, como as que o ministro anunciou.”
Segundo a secretária-executiva
da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do
Tabaco (Conicq), Tânia Cavalcante, o Brasil é exemplo mundial de combate ao tabagismo,
implementando as medidas do tratado.
Uma ação que precisa avançar,
segundo ela, é oferecer alternativas aos produtores de tabaco do país.
“Somos o segundo maior
produtor, o mais exportador, e temos 150 mil famílias presas nessa cadeia
produtiva, dependentes economicamente. O que arrecadamos com o cigarro
corresponde a 23% do que gastamos em saúde. Isso é um estudo que ainda
subestima o custo, porque não avaliamos o impacto ambiental que essa produção
causa, a contaminação por agrotóxico, a saúde do trabalhador que também adoece
pelas doenças relacionadas ao tabaco, a poluição das águas, o desmatamento, já
que é uma das culturas que mais desmata. Sem contar o custo intangível, que é o
sofrimento das famílias e do indivíduo que contrai as doenças e da morte
prematura.”
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) lançou a campanha Tabaco: uma ameaça ao desenvolvimento,
para discutir os impactos socioambientais em todo o planeta gerados pela
produção e consumo de produtos derivados do tabaco.
Segundo a OMS, o consumo do
tabaco mata mais de 7 milhões de pessoas todos os anos, sendo responsável por
cerca de 16% de todas as mortes provocadas por doenças crônicas não
transmissíveis.
O custo aos lares e aos
governos passa de US$ 1,4 trilhão em despesas com saúde e com a perda de
produtividade.
Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/tabagismo-custa-r-569-bilhoes-por-ano-ao-brasil/
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