quarta-feira, 9 de março de 2011

Igreja Católica suspende 21 padres nos Estados Unidos


Igreja Católica suspende 21 padres nos Estados Unidos
O cardeal Justin Rigali admitiu que os casos de abusos sexuais de crianças “abalaram a confiança” na Igreja CatólicaGregory A. Shemitz, EPA

Os resultados de um inquérito apreciado por um grande júri levaram ontem a arquidiocese de Filadélfia, nos Estados Unidos, a suspender 21 padres por suspeitas de abusos sexuais de menores. A hierarquia católica manifesta a esperança de que os seus “esforços” “ajudem a reconstruir” uma “confiança abalada”, mas as organizações que representam vítimas de pedofilia no seio da Igreja criticam a ausência de rapidez e de “transparência”.

A última investigação a alegações de abusos sexuais de crianças na arquidiocese de Filadélfia prolongou-se por dois anos – foi o segundo inquérito do género desde 2005. Em fevereiro, o relatório de um grande júri identificava 37 padres católicos que continuavam a exercer a sua atividade apesar da existência de indícios credíveis de práticas pedófilas. Após a divulgação dos resultados das diligências, o cardeal Justin Rigali, arcebispo daquela cidade norte-americana, prometia levar a sério a exigência de alterações profundas na forma como a hierarquia lidara, até então, com casos de abusos.

Vinte e um padres, cujos nomes não foram revelados, veem agora suspensas as suas funções. Três sacerdotes nomeados pelo grande júri haviam sido suspensos logo após a deliberação. O relatório nomeou mais cinco padres. Contudo, um deles encontra-se de licença, dois estão “incapacitados” e sem exercerem “ministério ativo” e outros dois deixaram de praticar o sacerdócio na arquidiocese, pertencendo a uma ordem religiosa que não foi identificada. Os restantes oito foram ilibados das acusações.

“Estas foram semanas difíceis, desde a publicação do relatório do grande júri, difíceis, acima de tudo, para as vítimas de abuso sexual, mas também para todos os católicos e para todas as pessoas na nossa comunidade”, afirmou o arcebispo Rigali numa nota ontem publicada. 

“Reconstruir a confiança”

Um primeiro inquérito, conduzido em 2005, concluíra pela existência de indícios claros de abusos sexuais de menores cometidos por 63 padres católicos. Por outro lado, ficou demonstrado que a hierarquia optou sempre pela transferência dos sacerdotes suspeitos para outras paróquias e dioceses dos Estados Unidos. Por determinação da arquidiocese de Filadélfia, foi instituído um painel para analisar as queixas. Mas o relatório publicado em fevereiro passado estabelece que esse expediente teve por objetivo proteger a Igreja em prejuízo das vítimas.

Na resposta à deliberação do grande júri, o cardeal Justin Rigali encarregou a antiga procuradora de Filadélfia Gina Maisto Smith, especialista em casos de pedofilia, da reavaliação de todas as queixas apresentadas contra padres em exercício. Uma inversão de comportamento que mereceria elogios por parte do procurador Seth Williams: “As ações do cardeal Rigali são tão louváveis como inéditas e refletem a sua preocupação com o bem-estar físico e espiritual daqueles que estão sob o seu cuidado. Apreciamos que a arquidiocese tenha reconhecido o valor do relatório e considerado correto dar alguns dos passos exigidos pelo grande júri”.

Num pedido público de desculpas, o cardeal Justin Rigali admitiu que os casos de pedofilia “abalaram a confiança” de “muitas pessoas” na Igreja. “Rezo para que os esforços da arquidiocese no sentido de tratar destes casos de preocupação e reavaliar a nossa forma de lidar com alegações ajudem a reconstruir essa confiança”, sublinhou.

“Um ato de desespero”

Nada comovidas com as palavras do arcebispo, as estruturas que assumem a defesa das vítimas de abusos condenam a demora da reação às alegações. Desde 2002, quando o escândalo de pedofilia da Igreja Católica dos Estados Unidos rebentou na arquidiocese de Boston, centenas de padres foram afastados de funções públicas ou mesmo banidos do sacerdócio. A hierarquia de Filadélfia esperou até 2011 para agir.

Em declarações citadas pela Associated Press, Terence McKiernan, da organização Bishop Accountability, sublinha o facto de a suspensão dos 21 padres ter sido “forçada pelo relatório do grande júri de Filadélfia”. Trata-se, segundo o ativista, de “um ato de desespero e não de transparência”: “Em Filadélfia, foi preciso indiciar um responsável católico para que a arquidiocese começasse, finalmente, a respeitar as suas próprias políticas. Não temos razões para acreditar que Filadélfia seja incomum. Noutras dioceses dos Estados Unidos, padres credivelmente acusados continuam no ministério e os painéis de revisão estão a proteger padres em vez de protegerem crianças”.

Também Peter Isely, da Survivors Network of those Abused by Priests, considera que o cardeal Rigali foi lento a decidir. Pela “simples razão de que dezenas de abusadores de crianças acusados de forma credível foram irresponsavelmente mantidos durante anos em paróquias insuspeitas, ao invés de serem prontamente suspensos”. “Foi porque Rigali e os seus assessores de topo assim o quiseram”, conclui.

Fontehttp://www0.rtp.pt/noticias/?t=Igreja-Catolica-suspende-21-padres

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